sexta-feira, abril 27, 2007

Até breve Líbano?


O Líbano certamente é um pais muito interessante e com grandes complexidades sociais. Um país cheio de historia, diferentes civilizações, culturas, idiomas, religiões e, principalmente, idéias. Idéias de como formar o país, de como regê-lo, de como mandar, de como fazer. Mas o que mais me surpreendeu é a vontade de querer seguir vivendo e trabalhando. Eles tem o coração forte e uma mente que não muda de idéia facilmente (às vezes nunca, e por isso tantos conflitos entre os diferentes grupos).

Vi que este país precisa passar por um processo de paz e entendimento, mas ainda mais importante, de perdão; perdoar o passado, os acontecimentos, as mortes, as matanças que ocorreram na guerra civil libanesa que durou muitos anos (1975 - 1990 !!!!) e que enfrentaram pessoas do mesmo bairro, ou outros bairros vizinhos, criando uma ferida que ainda não foi curada, já que muitos ainda não vêem que o perdão pode ser a solução para uma maior unificação do pais.


Outra coisa que notei é a grande divisão entre o cidadão “normal”, os políticos e os diplomatas. As pessoas perderam a confiança no governo e nos políticos por causa da corrupção, e estão se sentindo isolados e sufocados pelas decisões desses políticos (muitos deles foram os que causaram e lutaram na guerra civil), e isto não tem beneficiado o país. Parece ser que os políticos e os diplomatas (que tentam mudar as idéias dos políticos para uma melhor gestão do governo) se distanciam das pessoas e acham que elas só estão aí para obedecer, que são incultas e incapazes de entender a situação. Esta grande divisão entre os dois níveis no país causa grande instabilidade e mais barreiras que impedem uma verdadeira união da sociedade. Isto faz com que cada líder dos grupos religiosos ou seitas controlem melhor os seus seguidores, ditando-lhes o que devem fazer, incluindo o posicionamento que eles devem tomar ante outras pessoas ou decisões do governo.


O Líbano precisa de uma restauração genuína. Precisa de uma nova geração de políticos que não estiveram na guerra civil; o país precisa de um sistema educativo que ajuda as crianças e jovens a pensarem por si mesmos (isso e' muito controversial, pois há muitos grupos, tanto cristãos como muçulmanos, que não querem ver isso, pois dificulta o controle da população).


Nas duas semanas que passei no Líbano recebi muita informação e pontos de vistas que ainda preciso analisar, pensar e meditar, mas agradeço a Deus pela a oportunidade de ver, experimentar e escutar as pessoas, visitar diferentes partes do país e ver diferentes situações. Muito obrigado a todos pelas orações e apoio!


Filipe Amado

segunda-feira, abril 23, 2007

Entre os Chiitas e os Judeus: A Dura Realidade do Líbano


Oi de novo! Aqui estou, falando de Damur, ou pelo menos tentando escrever. Não tenho conseguido me conectar nestes últimos dois dias, pois tudo tem sido bem corrido. Ontem me reuni com um dos lideres dos Drusos (uma das divisões do Islã), Sheik Sami Abil Mona, e também diretor da IRFAN Schools, uma ONG que escolariza crianças com poucos recursos econômicos.. Pela tarde fomos a uma conferência de diálogo entre religiões onde temas como religião e politica, ou religião e o estado, foram discutidos, principalmente tendo em conta o complicado formato do governo Libanês, onde cada religião é representada no governo, num total de 18 religiões ou seitas. Isto causa alguns problemas e fricções entre as pessoas das diferentes religiões.

Toda a conferência foi em árabe mas por sorte eu pude levar um amigo meu que e' daqui, e ele nos traduziu do árabe para o inglês. Foram várias opiniões e posicionamentos interessantes, especialmente o posicionamento Chiita sobre um estado religioso, onde eles tomam como exemplo o Irã (os Chiitas que moram aqui no Líbano são fortemente influenciados pelo Irã e são a maioria da população no país, causando fricção e temor entre as pessoas das demais religiões dado ao seu extremismo e vontade de ter mais poder político). Esta manhã fomos à Fundação Imam Sadr, uma fundação Chiita que trabalha com crianças de todo tipo (especialmente órfãos que perderam seus pais neste ultimo conflito com Israel), oferecendo escolaridade, moradia, saúde e treinamento profissional. Esta fundação é uma tentativa genuína de ajudar a população de Tiro (onde eles estão localizados) e também no resto do Sul do Líbano.

Depois desta reunião, nos encontramos com Tekimiti Gilbert, Chefe de Operações das Nações Unidas, um homem encantador que nos explicou sua visão sobre o Sul do país, os Chiitas, Hezbollah e a situação politica. Ele esta coordenando a retirada de minas no sul do Líbano colocadas pelos Israelenses durante a guerra do verão passado. Ele mora na região há mais de dois anos. Este encontro foi muito interessante, pois foi totalmente “casual”. Encontramos uns escritórios montados pelas Nações Unidas e decidimos passar pela entrada e perguntar para os soldados se podíamos entrar e falar com alguém que trabalhasse com a ONU. Explicamos que estávamos fazendo parte de uma equipe de reconciliação que trabalha com vários projetos ao redor do mundo (Africa, Irlanda e Oriente Médio) trazendo uma maior união entre pessoas dos dois lados de um conflito. Eles nos deixaram entrar e pudemos ter uma boa conversa sobre a situação do Líbano e como era a visão dele para o futuro deste país. Foi verdadeiramente uma benção de Deus.

Tenho visto que Deus tem aberto muitas portas para conhecer muitas pessoas, conversar, e ter a chance de conhecer diferentes pontos de vista, tanto políticos como religiosos. Tem sido bom ver como o povo deste país e' extremamente forte e luta para se recuperar, tentando resgatar a economia e a esperança.

Parece que o que as pessoas realmente querem é poder viver em paz e, se possível, viver juntas. Existem tantos problemas que é muito difícil explicar tudo em um pequeno texto. No entanto, tenha este país nas suas orações. É o ÚNICO país em todo o Oriente Médio que VERDADEIRAMENTE aceita diferentes religiões, com grande liberdade de expressão. Este país é um exemplo para o Oriente Médio. Mas, tristemente, muitos países (do Oriente e do Ocidente) possuem agendas diferentes e querem usar o Líbano como o palco onde lutar as suas batalhas.

Filipe Amado

domingo, abril 15, 2007

Notícias do Filipe em Beirute


Finalmente cheguei! Estou numa pequena cidade ao norte de Beirute chamada Darmur, a uns 15 quilometros do centro de Beirute, hospedando-me com um equipe de misionários que trabalha aqui. Durante a minha estadia neste lugar estarei contatando varias pessoas para poder conversar e entrevistá-las para saber sobre o que acham da situação que o Líbano e o Oriente Médio está passando agora mesmo. Será interessante coletar informação e também conversar sobre projetos futuros, onde queremos mandar equipes para o Líbano para trabalhar com escolas e orfanatos.

O ambiente aqui é calmo, ainda se vê muitos tanques e soldados e se pode constatar os danos que o conflito entre Israel e Líbano deixou. Será bom conversar com as pessoas para ver qual e a opinião deles. Uma parte do centro da cidade esta fechada, um grupo de pessoas do Hezbollah está acampado no centro da cidade e está fazendo manifestacões, então o governo deixou mais cercou ao redor de onde eles estão. Questão de segurança......

Ainda é o meu primeiro dia aqui, cheguei ontem da Síria, uma experiência tremenda. Um país com muito caráter e muitas coisas que ver. Uma das coisas que me fizeram pensar foi ver o tamanho das antigas igrejas que ainda estão em pé dentro de Damasco. Fui visitar a igreja de São Paulo (perto da antiga entrada oriental para a cidade, onde a tradição diz que foi onde ele teve a visão de Jesus), depois dela, visitei a igreja Armena, e pensei: o que tem acontecido em tanto tempo que, antes, a igreja cristã, que crescia tão rápido e era um pilar dentro do Oriente Médio, está desaparecendo e quase tornando-se relíquias e somente museos para turistas. O que tem acontecido com a população cristã, que cada vez mais tem ido para outros países? Quando haverá uma restauração e um crescimento do cristianismo numa área que tem um legado tão fortemente cristão?


Filipe