
Queridos,
Dois dias atrás eu terminei de ler um livro (O Choque de Civilizações, Editora Objetiva, R$ 54,90) que, na verdade, eu já deveria ter lido tempos atrás. Apesar de ter sido publicado há quase dez anos, continua sendo extremamente atual e importante. Foi escrito pelo professor Samuel Huntington, da Universidade de Harvard, e basicamente defende a importância das culturas locais (as quais, nas suas manifestações mais amplas, são civilizações) “como motivadoras de alianças e choques no mundo contemporâneo”. Ele crê que o mundo atual pode ser dividido em sete civilizações: Ocidental, Latina Americana, Africana, Islâmica, Chinesa, Hindu, Ortodoxa, Budista e Japonesa. De acordo com Huntington, deste grupo as que provavelmente estarão tendo choques entre si, devido às diferenças sociais, culturais, econômicas e religiosas, sãos as Ocidental, Islâmica e Chinesa.
O autor faz uma análise bastante detalhada das características destas civilizações, principalmente a Ocidental, para justificar as suas conclusões. No entanto, vários aspectos me chamaram bastante à atenção. A primeira é a diferenciação que ele faz entre ocidentalização e modernização. As diferentes civilizações estão se modernizando, e não necessariamente ocidentalizando-se. Apesar de aceitarem certos aspectos modernos, as mesmas estão mantendo os seus princípios e valores. Portanto, falar de uma “ocidentalização global” é, segundo Huntington, pura falácia.
Outro aspecto interessante (vindo de alguém cuja principal preocupação é social e política) é que o autor condena o Ocidente (principalmente a Europa) por estar negando as suas raízes cristãs, enquanto as demais civilizações (principalmente a muçulmana) se afincam cada vez mais às suas raízes religiosas e/ou filosóficas. Isto pode ser visto no que alguns chamam de a “revanche de Deus” onde, depois de um período onde os filósofos pensavam que o mundo estaria se afastando cada vez mais do conceito de um ser divino e todo poderoso, ocorreu, a partir dos anos 70, exatamente o contrário: avivamento religioso e fundamentalista em várias regiões do mundo.
Na opinião de Huntington o Ocidente corre o risco de perder a sua hegemonia, não só por questões econômicas ou demográficas mas, principalmente, porque existe uma marcada manifestação de declínio moral que inclui:
1. Aumento do comportamento anti-social, como o crime, o uso de drogas e violência de uma forma geral;
2. A crise do conceito de família, incluindo um aumento importante no número de divórcios, filhos ilegítimos, gravidez na adolescência, e famílias com pais solteiros;
3. Declínio considerável do envolvimento da população em geral com organizações de caráter humanitário;
4. Uma diminuição na ética de trabalho e um aumento do culto da indulgência pessoal;
5. Diminuição no compromisso relacionado com atividades intelectuais, com uma conseqüente diminuição dos níveis de escolaridade.
Entre outras coisas (como, por exemplo, uma maior ocidentalização da América Latina), Huntington crê que a esperança de um Ocidente forte passa por uma renovação dos aspectos morais e um maior reconhecimento e afinco à herança cristã que está na base da criação e desenvolvimento dos países ocidentais.
É claro que a tese de Huntington levantou muita polêmica em diferentes partes do mundo. No entanto, as implicações do que ele diz (caso estiverem pelo menos parcialmente corretas) são enormes, principalmente se nos perguntamos qual é o papel dos cristãos diante da realidade do mundo atual. Será que estamos sendo luz e sal da terra? Será que, de alguma forma, poderíamos contribuir para evitar um “choque de civilizações”? Será que devemos nos conformar com o fato de que culturas, onde a presença do cristianismo é extremamente reduzida, estejam mais preocupadas com a situação da família, o cuidado dos mais velhos, um maior compromisso com a educação, uma ética trabalhista menos egoísta e um maior compromisso social? Sem dúvida, são aspectos que devemos considerar seriamente à luz da Palavra. Pessoalmente creio que, como cristãos, poderíamos ter um impacto positivo no mundo muito maior do que estamos tendo atualmente, caso realmente estivéssemos dispostos a levar mais a sério o que a Bíblia diz. Que o Senhor nos de muito discernimento nestes tempos de grandes desafios.
Os seus comentários serão muito bem vindos. Um forte abraço.
Nele,
Marcos
PS: O livro pode ser encontrado na Livraria Saraiva online: http://www.livrariasaraiva.com.br/produto/produto.dll/detalhe?pro_id=390760&ID=3EFC40117D5081B0A0F1A0154

2 comentários:
Gostei, mas queira ou não, modernização traz occidentalização e orientalismo, pos com a tecnologia veem principios e ideologias empacotados na mesma caixa. Hoje em dia, as culturas vão e veem. A oriental influencia a occidental e vice versa, acho que os paises tem recebido e dado da suas respetivas culturas atraves da globalização. O fundamentalismo islámico é ruim e o fundamentalismo cristão tambem é igual de ruim. Fundamentalismo e radicalismo são aspectos negativos das religiões. Devemos ser radicais por Jesus? Sim, mas não radicais pela nossa religião. Com essas afirmações podem vir varias perguntas, das quais estou aberto a discutir. Acho que o declinio moral na europa e o radicalismo moral islamico são ruins. Na europa chegará um momento que se perguntaram aonde iram parar os valores morais, qual é o limite (ja estao se perguntando) e nos paises musulmanos, as pessoas buscam mais liberdade na sua vida e religião, mais liberdade de expressão. em fim, uma confusão, um tema legal de conversar :D
Tem razao, Filipe, pois "com a tecnologia veem principios e ideologias empacotados na mesma caixa". No entanto, Huntington defende que apesar disto, as demais civilizaçoes estao sabendo manter as suas principais características. Elas estao se modernizando, adquirem certas características da cultura ocidental, mas continuam dando enfase à familia, a longas horas de trabalho, a aspectos religiosos e morais, a um maior enfase no grupo e nao na pessoa, etc.
Marcos
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